quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Outubro

O vento uiva na rua deserta e o céu, ameaçador,
avança carregado de nuvens.

O tique-taque soturno do relógio anuncia um inverno rigoroso
e o inevitável dia dos mortos...

Despem-se as árvores, fica a solidão.


Reunem-se os ingredientes para uma tarde deprimente,
plena de inércia, recolhimento e apreensão,
vislumbrada pela pequena fresta
de um pedregoso e altivo mosteiro,
granítico, húmido e musgoso...
 
Vendo bem,

e ainda melhor pensando,
apesar da luninosidade esbatente, do encurtar dos dias,
das folhas caídas, do escurecer das roupas,

Outubro não é assim,
não,

pois lentamente, suavemente e docemente,
inspira-nos...

Lembrem-se da despensa da casa da avó, cheia 
de cheirosos chouriços, garrafas de vinho
e todo o tipo de latas,
ele era cevada, bolachas, geleia, compota, castanhas, alhos,
ele era azeite, toucinho e bacalhau, loureiro e manjericão,
tanta fartura à espera do
serão...


Lembrem-se do felpudo cobertor de lã de ovelha, da televisão, do computador,

do telhado arranjado, da pá de porco no forno, da lenha guardada
e da lareira acordada...
 
Recordem as botas forradas, o cachecol e o blusão, a terra lavrada

e a chuva torrencial na janela, 
como é segura we quente esta casa!

Outubro é aconchego, é
ciclo anual,
é abraço do vento e frescura da aurora, 
chega com a água da vida que nos torna elemento.


Bem-vindo Outubro a este testamento,
pujante de louvores e de sentimentos,
mostra-te, agradeço-te fielmente.


Catártico na tua sombra, de que sou um contorno,
és sopro da mudança e do planeamento.



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Vila do Conde, Porto, Portugal
A beleza torna a tristeza suportável.

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