sexta-feira, 7 de março de 2014

março


Meu amigo março,

Penso em ti, 
és água, 
gelo derretido, aquário transbordante, 
água que verte nas fontes, regatos, tanques e valetas,
respigas da terra farta de um inverno tão longo quanto húmido. 

Podes ser, na origem românica, senhor da guerra,
força não te falta, 
qual oceano - Respeita o mar, rapaz, respeita o mar! -
mas, 
para mim, és apenas água,
límpida, doce,
passante e vazante,
fonte da vida, do homem, da terra,
tudo moldas, e nada fazes.

Água.

Mergulho em março, neste ano de 2014 onde tudo é quadrado,
ao quadrado, superlativo de tudo o que houve e há-de vir
o ano da decisão,
mandasse eu nestas coisas, seria como antigamente, agora iniciava o ano,
na primavera, para os antípodas outono, é certo,
em qualquer caso, seria certamente o início,
nada se inicia em fevereiro, muito menos em janeiro,
só são os meses do resto do inverno, o tal,
que nunca mais acaba.

Macho, sem dúvida, mas não másculo,
temperamental, é certo, fértil nem tanto,
aguadeiro siamês,
límpido, visível e invisível, misterioso enigma...

Que nos reservas, março, nessas tuas possantes reservas de água,
futuro ou passado?

Vago como um indie hipster, não te vejo, não te sinto, cheiro ou pressinto,
aguardo-te, deslizando, flutuando, imergindo no teu âmago,
pelo menos, por um instante, vislumbro-te,
já percebi, 
és o líquido amniótico!

Como não haverias de ser difícil de entender?
Origem, proteção, multidimensionalidade e imensidão, 
vendo bem,
és bem o deus encubador, a tua voz, 
de tão compenetrante e trovosa,
a todos nos embala,
 sem nos tocar.

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Vila do Conde, Porto, Portugal
A beleza torna a tristeza suportável.

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